.
Chega a madrugada...
Sopra a brisa, e eis que uma vela entuma
É o audaz pescador que sua canoa ruma
Em busca do pão de cada dia;
Ruge o mar, e toca ao descampado
Embalando o barquinho como embriagado
Ao sopro do vento que assobia.
.
Tenaz aventureiro, que rumo busca?
Ao encontro do nascente que ofusca
Nesta mísera embarcação desnuda;
Que leva, além de poucas linhas!
E vai de encontro às virações marinhas
Que lhe fazem companhia muda.
.
Se eis que o vento se torna seu inimigo
E o abandona, e não consegue abrigo,
Rema resoluto sem nunca se poupar;
Foi em busca de sonhos, aventura,
Pois que a luta contra a fome é dura
E não se pode desanimar.
.
Deixou mulher e filhos esperando
E ao encontro do não sei, vai cantando
SEm pensar que o mar é traiçoeiro;
Viaja, desliza, horas sem cessar,
Vendo o sol subir, pra depois chegar
Ao lugar certo onde há pesqueiro.
.
Luta, esforça. Mas, nem sempre alcança
O que o leva com tanta esperança
E volta á sua casa, sem comida;
Está cansado, maltratado de fadiga
Mas, em casa, sua mulher amiga
Consola embalando uma cantiga.
.
Valente pescador...
Se um dia em que um vendaval lhe espera,
E ameaçar, rugindo como fera,
Encontrando-lhe em pleno alto mar!...
O que fará nesta pobre canoa...
Sim, o vento o levará à-toa,
E o que acontecerá?...
.
E se depois dessa luta incessante,
Ainda vive, nos mares, errante...
Procura o rumo certo a seguir;
Encontrando, chega, a luz que se acende,
E na praia, a um chamado seu, atende
Seu filho que espera a sorrir.
.
Salta, e no salto tem a leveza
Muito embora os anos lhe acercam com crueza
Deixando em seu rosto o cansaço;
Pede ao filho; " Vai, e veja se vende".
E ba areia da praia então estende
Para que os pegue no seu braço.
.
Roda, procura, e já escurece.
Todo aquele peixe o aborrece
E volta à sua casa desolado;
Já era tarde, e por isso não podia
Vender todo aquele peixe à freguesia
Que nem por baixo preço, o teria comprado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário